segunda-feira, 13 de setembro de 2010

ideologia e verdade, qual devo seguir?

A eterna disputa entre direita e esquerda políticas é a guerra civil institucionalizada do sistema ideológico. Comunistas, Socialistas, Social-democratas, Liberais, Fascistas ou qualquer outra facção que ponha o querer das ideias sobre a boa imposição da realidade contribui, de forma desastrosa, para a luta interminável entre pólos e o descorar de um olhar descomprometido mas responsável do real.

Acontece que votámos toda a actividade política a isto. Depois de iniciada uma determinada corrente da história nas terras de França, ao sabor de sangue guilhotinado e de perseguição motivada pelo ódio, confinámos a argumentaria da oratória da arte de governar os povos ao combate letal da oposição de ideias fabricadas e escolhidas. Demasiadas vezes vimos a vontade suprema de moldar o mundo segundo a ideologia ser levada na ponta da espingarda.

Uma ideologia, seja ela qual for, rege-se por um princípio limitador da inteligência: aprisiona o pensamento e o discernimento humanos a um padrão que determina de que forma se compreende o que é objectivo. Em suma, omite todo o sentido de “bom senso” na prática da soberania das sociedades, como se o querer esquematizado pudesse sobrepor-se à verdade das coisas.

Hoje os partidos são escolas profissionais refugiadas nestas ideologias. Estruturas de cunha, amiguismo, arrivismo e garantia de emprego e poder de alguns. O sistema democrático que servem é o campo que abriram a todos os jogos que dominam, perante claques mais ou menos entusiasmadas conforme o decorrer dos desafios. É ideologia organizada em sistema empresarial, que promete boas partidas e enche jornais com as contratações.

No fim, a ideologia é hoje um pretexto das sociedades complexas, ditas livres e dos direitos fundamentais garantidos, para a existência legal da competição pelo poder. E isto levanta um problema fundamental, de cuja resposta dependemos em grande escala para garantir o futuro: o poder é um direito a ser disputado ou um dever a ser herdado?

Dir-me-ão que a direita compreende melhor, nos seus trâmites estatutários e programáticos, toda a lógica que repudia o poder popular. Ou seja, reconhece que o poder político e de Estado é mais a quem deve do que a quem quer. Mas daí surge outra questão, mais complexa e difícil de debater, que se prende com as várias direitas que se assumem neste espectro e o reclamam.

Primeiro porque o liberalismo se rege pelo princípio da meritocracia burguesa. Segundo porque as ideologias autoritárias da direita legitimam o poder num culto do chefe, na divinização da personalidade e na crença em algo que morre com o seu autor. Salvo raríssimas excepções de circunstância motivadas pelo decorrer dos factos históricos, como no caso do Estado Novo e de Salazar, é esta a verdade da autoridade da direita presa à cartilha da ideologia.

Mas é obvio que a direita e a esquerda não são correntes a um mesmo objectivo humano, distinguindo-se apenas na forma. É manifestamente abstruso colocar a apreciação na suposta “boa vontade” dos indivíduos que querem fazer valer qualquer visão do mundo. Em última análise, impor essa visão seria limitador de uma Liberdade maior, esta sim um direito. As direitas têm em grande parte partículas de Bem Comum. As esquerdas substituem-nas pelo bem da ideologia e do Estado porque todos são, teoricamente, o Estado.

O assunto é em mais profundo do que o que aqui tento explanar, mas na prática tudo se resume à defesa, ou não, da não imposição de algo que não seja a Verdade. E o que as ideologias fazem é construir as suas próprias ilusões de manipulação ao sabor de uma vontade, tantas vezes desligada de qualquer sentido de realidade ou fruto de uma leitura parcial do fluxo da história.

Ora, a Verdade não se constrói, nem manipula ou detém. A Verdade cumpre-se no que ela tem de imutável porque eterna. Chama-nos a todos para conhece-la pelo reconhecimento, independentemente do querer transitório e efémero dos indivíduos. A ideologia não serve esta Verdade na mesma medida em que a Verdade não é ideológica. E é por isso que, sem medo de apreciações erradas, me nego ser de direita, de esquerda, de centro ou de qualquer outra posição de hemiciclo. Sou do que, na melhor forma temporal de cumprir e fazer cumprir o eterno passa o testemunho do poder que é dever.

Porque o poder só se torna direito se construirmos a sua função e o seu objectivo. É dever na medida em que reconhece ser deposito de algo que nos é exterior, mas no qual somos convidados a participar como executores.

Também na direita há violação do princípio deste reconhecimento.

ideologia

Ideologia é um termo que possui diferentes significados e duas concepções: a neutra e a crítica. No senso comum o termo ideologia é sinônimo ao termo ideário (em português), contendo o sentido neutro de conjunto de ideias, de pensamentos, de doutrinas ou de visões de mundo de um indivíduo ou de um grupo, orientado para suas ações sociais e, principalmente, políticas. Para autores que utilizam o termo sob uma concepção crítica, ideologia pode ser considerado um instrumento de dominação que age por meio de convencimento (persuasão ou dissuasão, mas não por meio da força física) de forma prescritiva, alienando a consciência humana.

Para alguns, como Karl Marx, a ideologia age mascarando a realidade. Os pensadores adeptos da Teoria Crítica da Escola de Frankfurt consideram a ideologia como uma ideia, discurso ou ação que mascara um objeto, mostrando apenas sua aparência e escondendo suas demais qualidades. Já o sociólogo contemporâneo John B. Thompson também oferece uma formulação crítica ao termo ideologia, derivada daquela oferecida por Marx, mas que lhe retira o caráter de ilusão (da realidade) ou de falsa consciência, e concentra-se no aspecto das relações de dominação.